O PERDÃO
O PERDÃO
Mateus 18:15-35
Então Pedro aproximou-se de Jesus
e perguntou: "Senhor, quantas vezes deverei perdoar a meu irmão quando ele
pecar contra mim? Até sete vezes? " Jesus respondeu: "Eu lhe digo:
não até sete, mas até setenta vezes sete.
Mateus
18:21-22
Esta frase acima é a passagem
mais conhecida e comentada do ensino sobre o perdão que o nosso Cristo deixou.
Ela está em camisetas, banners e é repetida em tantos lugares que seria tarefa
descomunal descrevê-los. Ela é o cerne deste ensino, porém, para entendê-la, necessitamos
compreender todo o contexto no qual ela se desenvolve.
Jesus e os discípulos estavam em
Cafarnaum, e, após terem vindo do monte onde o Senhor se transfigurou diante de
três deles, quando viram sua glória, desceram de lá e encontraram uma situação
de possessão demoníaca na qual os discípulos que não subiram ao monte não
puderam expulsar da vítima o demônio. Jesus elimina o problema, vão andando,
chegam na região da Galiléia, comenta-lhes sobre sua morte e ressurreição, e
por fim, chegam a Cafarnaum, onde é exigido que sejam pagas as taxas de pedágio
de Jesus e Pedro, provavelmente por serem habitantes da cidade naquele momento.
Um maravilhoso milagre é feito em uma pesca especial, na qual de um peixe, Pedro
retira a moeda com o valor do imposto e paga. Neste momento seus discípulos
iniciam uma sessão de perguntas e respostas onde a questão do perdão é
levantada.
Jesus ao responder, não o faz
apenas com a frase inicial de nosso texto, mas também lhes conta uma parábola
para aprofundar o conceito do perdão neles. O Senhor cria um quadro mental
muito fácil de perceber, quando inicia com uma introdução e termina a parábola
com uma conclusão, ele começa dizendo que o perdão é um fator determinante para
aqueles que participam do Reino de Deus, e compara esse reino com os
acontecimentos narrados de uma parábola.
Um certo rei chama seus súditos e
faz um acerto de contas geral com todos. Trouxeram-lhe alguém que lhe devia dez
mil talentos. Um talento, na época de Jesus, pesava cerca de 60 quilos, e
normalmente era de ouro. Esta pessoa devia 600 mil quilos em ouro, o
equivalente em reais nos dias de hoje, considerando um valor aproximado de R$
150,00 a grama, algo em torno de 90 bilhões de reais. Uma dívida impagável. O
devedor sabe disso e implora ao rei o seu perdão e misericórdia – até mesmo
para que ele e sua família não fossem vendidos como escravos a outra pessoa – e
o rei, movido de profunda compaixão, perdoa ao súdito toda essa monta.
Ele sai alegre da presença do
rei, livre, completamente livre da dívida impagável e agradecido pela
misericórdia que havia alcançado. Ele não a merecia, mas o rei por pura escolha
e misericórdia o tinha perdoado. Quando vai pelas ruas, encontra outra pessoa,
um súdito como ele, e se lembra que este lhe deve 100 denários. Um denário era
equivalente a um dia de trabalho. Na média dos salários brasileiros, um dia de
trabalho seria mais ou menos R$ 50,00, portanto, o outro lhe devia cerca de R$
5.000,00. Uma quantia irrisória em relação àquela que o primeiro devia ao rei.
Porém, este homem não usou da mesma misericórdia e compaixão que recebeu antes
com o seu companheiro e, mandou que fosse preso, até que a dívida fosse paga.
Outros súditos do rei souberam
disso e lhes contaram o que o primeiro homem fez com seu companheiro e mandou
chamar-lhe. O rei lhe questionou o porquê de ele não ter usado da mesma medida
de misericórdia ou compaixão e por não ter perdoado seu amigo, de uma dívida
tão pequena, quando o rei o havia perdoado de uma gigantesca e impagável. O
resultado desta audiência é que o senhor daquele homem reintegrou o valor total
de sua dívida outrora perdoada e o encarcerou sob tortura para que pagasse o
que devia.
Jesus fecha o quadro concluindo
que da mesma forma as pessoas serão tratadas por Deus, se não oferecerem o
perdão a todos os que os ofendem. Portanto, o reino de Deus é um reino onde o
exercício do perdão é um mandamento a todos os seus servos e servas, filhos e
filhas. Com esse encerramento, Jesus esperava que a pergunta de Pedro, na mente
do discípulo, fosse completamente respondida. “Até setenta vezes sete”
significa simplesmente TODAS AS VEZES.
É óbvio que o Senhor Jesus sabia
que isso era algo muito difícil para os seres humanos feridos fazerem, mas ele
usou essa parábola para demonstrar que a força poderosa do perdão é um ato de
profunda compaixão e misericórdia sobre a vida daqueles que de fato não merecem
esse perdão. Perdoar é uma dádiva, um dom, um favor que o outro não é digno de
receber, mas um coração transformado para habitar no reino de Deus não terá
resistências em oferecê-lo a quem o feriu.
Perdoar é tão profundo e o nosso
Jesus foi até as últimas consequências crendo no que ele ensinou, que momentos
antes de morrer, ao estar sendo crucificado sem cometer nenhum pecado ou erro,
ele falou ao Pai:
“Pai,
perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem!”
Carlos Kleber Carvalho, Bp.
Julho de 2018
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