"No mundo tereis aflições..."
“No mundo tereis aflições...”[1]
Esta é uma das mais conhecidas e
citadas expressões de nosso Senhor quando presente fisicamente em nosso meio.
Normalmente, quando a maioria de nós deseja expressar algo sobre as
dificuldades da vida, dos problemas que nos são comuns ou das dores e doenças
que nos acometem, citamos essa famosa frase para justificar e tentar apaziguar os
nossos corações.
O estudo um pouco mais atento
desta palavra em seus textos originais vai nos colocar o real significado dela
para melhor compreender a frase do Senhor. Aflição tem basicamente três fontes
primárias:
1)
O sofrimento devido às pressões das
circunstâncias ao nosso redor;
2)
O sofrimento causado pelo antagonismo das
pessoas;
3)
E qualquer coisa que lhe atormenta ou
sobrecarrega o espírito.
Dito isso, aflições são as
emoções que veem como consequências das influências externas exercidas em nossa
mente. Este mundo, como disse Jesus, é moldado, por causa do pecado que nele
habita, para produzir nos seres humanos angústias e aflições, pelo fato que
outra coisa não poderia gerar, senão sofrimento. É necessário também dizer que
há uma enorme diferença entre as palavras “mundo” que a Escritura usa.
Há o mundo, universo, planeta,
seres viventes criados por Deus e o mundo sistema social, econômico e
geopolítico no qual desenvolvemos nossas relações. Neste segundo, é que somos
afligidos por conta da imperfeição sistêmica causada em nós pelo pecado
original em nosso DNA. Este “mundo-sistema de vida” está fadado ao fracasso,
como a História nos mostra continuamente e só pode produzir sofrimento. Este
mundo não criado ou projetado para ser isso, mas tornou-se isso como
consequência dos erros humanos.
O mundo é o que é, e Cristo porá,
no futuro prometido por ele, fim a esse sistema, recriando um mundo totalmente
novo onde o DNA de todos os que forem preservados para essa apoteose última,
será modificado eternamente. Porém, ainda vivemos por aqui e o que ele
descreveu ainda permanece.
Outra importante coisa que
precisamos entender é que a ênfase do texto não está nas aflições e isso me
parece que não tem sido afirmado com frequência nas mensagens, aconselhamentos
e pregações. Para Jesus, é normal que o mundo produza sofrimento, pelas razões
já apresentadas, mas ele introduz dois elementos à equação que são constantemente
esquecidos, se propositalmente ou não, não sabemos ao certo.
O primeiro elemento é o bom
ânimo. Ele encoraja a todos os seus discípulos, os que o ouviam e a nós, os que
lemos e cremos hoje, a termos ânimo de boa qualidade neste mundo, mesmo sabendo
que as aflições podem nos atingir. Esse espírito renovado, essa coragem
contínua e essa esperança incólume são imprescindíveis para as pessoas que
sabem que vivem num sistema que continuamente e normativamente em essência só produz
sofrimento. Esse é o segredo dos que têm fé. Essa é a diferença daqueles que
creem no Messias. Esta é a chave que modifica todo o produto final na vida e
nas mentes dos cristãos.
Jesus encoraja seus discípulos
por causa do segundo elemento, o novo elemento da equação: a vitória que
procede dele. Ele sequer tinha morrido e ressuscitado quando disse estas
palavras, mas já antevia a alegria posterior a todos os eventos que lhe
aconteceriam, e, por isso, proclamava antecipadamente sua vitória. É
precisamente nessa vitória de Cristo – venceu a cruz e a morte - na sua
ressurreição poderosa e eterna que podemos confiar, e mais, a sua vitória foi a
nossa vitória. Ele venceu para que pudéssemos vencer. Ele passou pelas piores
adversidades para que também nós pudéssemos desfrutar do mesmo triunfo.
Por isso torno a repetir: a
ênfase deste texto não está nas aflições que o mundo vai nos impor, porque é
apenas isso que ele pode nos dar afinal; mesmo tendo grande sucesso e fortuna,
as aflições não cessam na vida de ninguém. Mas os que creem em Cristo Jesus se
elevam acima disso e desfrutam de paz interior, de segurança mental e emocional
e de verdadeira vitória. Se ele venceu, vencemos também.
Carlos Carvalho, Bp.
Teólogo e Pr. Sênior da Comunidade Batista Bíblica
2 de janeiro de 2019
É verdade, mas se Cristo venceu, nós venceremos!
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